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Consequências do Vaticano II
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Ecos do Brasil

Clareza antes do Concílio;
ambiguidade depois

Manoel Ricardo Fiuza
Os anos 50 no Brasil foram uma época de grande fervor religioso e crescente devoção mariana. Ainda me lembro do auge da popularidade desfrutada pelas Congregações Marianas, cujas fileiras incluíam o líder católico Plinio Corrêa de Oliveira como um membro exemplar e apóstolo dedicado. Nos anos 50, ainda menino, entrei para a Congregação Mariana. Durante toda aquela década, tive orgulho de ser um membro, assim como a maioria dos meus amigos. Nossa luta católica naquela época era baseada em três devoções: a Eucaristia, Nossa Senhora e o Papa.

Cresci naquele ambiente com frequentes Horas Santas diante do Santíssimo Sacramento, oração diária do Rosário (15 dezenas), reuniões regulares com meus companheiros membros e uma ardente devoção ao Papado.

O recurso às encíclicas papais era constante para nosso aprimoramento espiritual, para atrair novos membros para nossa posição e para garantir um bom desempenho em nossos debates diários.

Eles eram nossos livros de bolso, lidos em qualquer tempo livre que tínhamos, todos sublinhados e com seus argumentos prontos para serem usados em conversas, palestras e debates.

Our Lady Universal Mediatrix of the graces

A crescente devoção mariana aguardava o dogma da sua mediação universal; foi frustrada

No início dos anos 60, esse grupo de amigos incluía muitos que eram estudantes de várias universidades e alguns que já tinham recebido seus diplomas. Também mantivemos a porta aberta para os jovens estudantes do ensino médio que estavam seguindo nossos passos.

Nessas reuniões deliciosas, ouvíamos relatos dos debates em que cada um havia se envolvido desde o último encontro. Longe de ser uma demonstração de orgulho, essas crônicas eram aulas de apologética nas quais os membros mais experientes passavam aos novatos os melhores argumentos extraídos do arsenal da doutrina católica, explicados pelos Soberanos Pontífices.

Essa era a atmosfera geral no meio católico de Belo Horizonte (Estado de Minas Gerais) e em todas as cidades do Brasil quando recebemos a notícia de que o Papa Pio XII havia morrido e João XXIII havia ascendido ao Trono Papal. Pouco depois de sua coroação, ele convocou o Concílio Vaticano II.

Muitos dos católicos que eu conhecia tinham a esperança de que o iminente Concílio concluísse o trabalho do Vaticano I, que não pôde ser concluído por causa dos ataques das tropas maçônicas de Vittorio Emmanuelle que tomaram os Territórios Pontifícios e a própria Roma, obrigando o Papa Pio IX a fugir para Gaeta e suspender sine die [sem uma data para ser retomada] os trabalhos daquele Concílio.

Mais tarde, ele retornou e declarou que, até que os Territórios Pontifícios fossem devolvidos a ele, o Papa permaneceria na condição de prisioneiro no Vaticano.

Nossas maiores esperanças eram que esse próximo Concílio de João XXIII condenasse o comunismo, declarasse o dogma da mediação universal de Nossa Senhora e aproveitasse o encontro de todos os Bispos do mundo para fazer a consagração da Rússia e do mundo ao Imaculado Coração de Maria, como Ela havia ordenado em Fátima.

Uma mudança notável

As primeiras encíclicas de João XXIII mantiveram o ensinamento de seus antecessores. Mas com o aparecimento de Mater et Magistra em 1961, as coisas começaram a mudar. As primeiras traduções apresentaram o texto papal como defensor da “socialização.”

John XXIII writting

Os documentos de João XXIII abandonaram a clareza do Magistério papal anterior para favorecer a esquerda

O Prof. Plinio Corrêa de Oliveira publicou um estudo comparativo dessas traduções com base no texto original em latim publicado na Acta Apstolicae Sedis, órgão oficial da Igreja para emissão de documentos. A conclusão desse estudo foi que a palavra “socialização” não havia sido utilizada literalmente pelo Pontífice na encíclica.

Não obstante, alguns meses depois, o Cardeal Amleto Cicognani, Secretário de Estado de João XXIII, afirmou em duas ocasiões diferentes que a encíclica realmente visava à socialização. Era o sinal verde para socialistas, comunistas e esquerdistas de todas as tendências usarem a encíclica para promover suas causas.

Os documentos de João XXIII que se seguiram tinham cada vez menos daquela clareza doutrinária anterior, que sempre caracterizara os pronunciamentos papais. Então, paradoxalmente, os inimigos da Igreja começaram a usar essas encíclicas contra nós. Tivemos que suportar os ataques feitos pelos progressistas, que continuaram a obra do Modernismo condenado por São Pio X, bem como por toda a gama de socialistas e comunistas.

Naquela época, o Prof. Plinio era o editor do Catolicismo. Este jornal era o órgão oficial da Diocese de Campos, Estado do Rio de Janeiro, mas seus colaboradores eram um grupo de intelectuais tradicionalistas de São Paulo dirigido pelo Prof. Plinio.

O Bispo Antônio de Castro Mayer lia e aprovava cada número. Catolicismo fizera questão de honrar a publicação de todas as encíclicas papais. Depois da Mater et Magistra, no entanto, essa tradição acabou.

Os documentos papais mudaram de tom e passaram a favorecer e promover a esquerda. Nós, católicos, não podíamos mais usá-los para lutar pela instalação do Reino de Cristo na terra, como havíamos feito antes.

Os novos ensinamentos do Pastor dos Pastores tornaram-se, em linhas gerais, favoráveis aos lobos e prejudiciais às ovelhas. Eram ambíguos, com ensinamentos em desacordo com a tradição do Magistério Pontifício anterior.

Pope fight to Africa

As declarações confusas de Bento XVI sobre os preservativos durante seu voo para a África prejudicaram profundamente a moral católica.

Antes, os Papas eram claros e não havia necessidade de explicar o que queriam dizer. Depois, tudo ficou turvo, abrindo portas para o que os inimigos da Igreja defendiam. Esse fenômeno desconcertante foi se disseminando cada vez mais até triunfar na linguagem inequivocamente ambígua adotada pelo Concílio Vaticano II. Esse Concílio representou uma virada de 180 graus na história bimilenar da Igreja Católica.

Um livro famoso de Plinio Corrêa de Oliveira – Baldeação Ideológica Inadvertida e Diálogo - merece ser estudado com cuidado, pois revela em detalhes muitas manobras e armadilhas utilizadas pelos inimigos da Igreja para tentar destruí-la. O autor descreve o pano de fundo da guerra psicológica revolucionária e explica como palavras como diálogo, pacifismo e ecumenismo são usadas para mudar as convicções daqueles que as ouvem ou as usam por meio de um sutil processo de propaganda subconsciente.

Podemos afirmar que, por meio da ambiguidade, o Vaticano II estimulou - e continua incitando - uma “baldeação ideológica inconsciente” em uma enorme multidão de católicos. Sem se darem conta, estão pisando fora das fronteiras da Fé Católica. Ao contrário, os católicos que permanecem fiéis mergulham numa perplexidade torturante.

Neste contexto, a providencial Coleção Eli, Eli, Lamma Sabacthani? de Atila Sinke Guimarães, adquire um alcance incalculável. Basicamente, mostra a ambiguidade dos documentos do Vaticano II.

É uma obra tão fundamental e inexpugnável que os inimigos que são expostos por ela não ousam sequer citá-la, muito menos refutá-la. No que diz respeito a nós, católicos, devemos agradecer à Divina Providência por nos ter dado esta coleção; devemos estudá-la e divulgá-la aos quatro ventos. Não devemos desprezar o dom de Deus, mas cultivá-lo.

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Postado em 1º de janeiro de 2025